terça-feira, 5 de maio de 2009

Você não pode mais criar apenas para o Brasil. Crie para o mundo.


Um fato não muito percebido acontece hoje e amanhã no Brasil: a visita do ex-presidente norteamericano Jimmy Carter.

Do governador Serra, de SP, ele recebeu a Ordem do Ipiranga, a mais alta honraria do estado, e depois foi se encontrar com o presidente Lula em Brasília.

Além de Nobel da Paz, Carter, presidente entre 1976 e 1980, antes de Ronald Reagan, tem hoje uma fundação homônima que presta uma série de serviços para países menos favorecidos, desde programa de casas populares até discussão para a manutenção da paz na região.

O que importa falar aqui, independentemente de preceitos políticos inclusive, é a relevância que o Brasil tem tido nos últimos tempos – e o que isto significa pra nós.

É certo que antes do Brasil Jimmy passou por Peru, Equador e Bolívia. Mas foi apenas aqui que ele discutiu a crise internacional e o status da democracia na região. Foi só aqui que ele tocou em pontos que estão sendo discutidos no mundo inteiro. Foi só aqui que ele deixou de falar apenas dos programas beneficentes de sua fundação para ouvir das autoridades brasileiras as opiniões a respeito de temas que são a preocupação dos grandes países mundo afora.

O Brasil tem sido colocado nas discussões mundiais. Mais do que nós mesmos procuramos, estamos sendo procurados. O mundo nos procura. E isso pede uma nova postura, tanto do Brasil, quanto do brasileiro.

Isto significa que o brasileiro médio tem que ter uma educação de alto nível. É mister que qualquer cidadão brasileiro, cada vez mais, esteja preparado para se projetar pelo mundo. Temos que ter educação, minha gente, temos que ter informação, temos que estudar. Podemos continuar o país do futebol domingo à tarde, saldando o Corinthians ou o Flamengo, podemos continuar gostando de samba e Carnaval, mas temos que fazer isso com conhecimento de causa.

Das autoridades, temos que cobrar uma educação de Primeiríssimo Mundo. Estudar no Brasil, em qualquer canto dele, deve ser o mesmo que estudar em Londres. Imagine?

De nós, temos que fazer jus ao investimento intelectual que todo país precisa para sustentar sua competitividade no planisfério global. O Brasil está ficando adulto, e, como tal, temos que assumir nossa verve.

Até porque a conseqüência disso se reflete em todos os setores econômicos, que só serão beneficiados, por sua vez, se tivermos estrutura apropriada para suportar o tranco internacional.

Veja a propaganda, por exemplo. Historicamente o que se cria no Brasil tem como foco o mercado interno. As campanhas brasileiras são das mais criativas do mundo, é verdade, mas têm uma linguagem que não necessariamente se encaixariam num outro país qualquer. Chegou a hora de o publicitário brasileiro planejar e criar pensando também na possibilidade de sua campanha ultrapassar as fronteiras, alcançar os países vizinhos da América Latina e, muito mais, as nações bem mais distantes.

Não temos esse costume. Pela tradição colonialista, localizamos para o mercado interno campanhas vindas de fora e deixamos de lado a possibilidade de fazer uma campanha aqui dentro que já seja global desde seu nascedouro, concorrendo de igual pra igual com as tradicionais campanhas americanas ou londrinas, que geralmente dominam o cenário quando um executivo de marketing quer ver uma só campanha no mundo inteiro.

Não podemos mais nos dar ao luxo de olhar pra nós próprios apenas. Temos que abranger nosso olhar, irromper conhecimento, considerar o consumidor latino além do brasileiro, considerar o consumidor global além do da região.

Sobre esse consumidor encontrável em qualquer parte do mundo falarei outro dia com mais profundidade. Ele existe, é semelhante em vários aspectos, mas a maneira de fazer propaganda para ele tem que sair do hábito localizado do brasileiro para absorver formas comuns a esse público onde quer que ele esteja. E isso não significa ser morno, balizando por baixo para atingir a todos. Isso significa chegar à essência das emoções comuns a qualquer tipo de ser humano, a linguagem universal.

Na sua próxima campanha, pense em como transformar a criação de um filme de varejo num pensamento longevo de comunicação tão global que faça seu cliente veiculá-la não só no Brasil, mas também no BRIC, nos emergentes, no G-20, no Leste Europeu, na Groenlândia.

Ao invés de localizar, globalize. Mas melhor que enfiar o nariz onde não é chamado é ser convidado a contribuir – assim como têm feito com o Brasil nos assuntos políticos. Adquira o traquejo global antes, e só então inaugure a sua diplomacia na propaganda. Alea jacta est!

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